Residência
pedagógica para professores das séries iniciais não ajudará a reduzir
as falhas da formação de educadores se não considerar a educação básica
como um todo. Essa foi a conclusão dos debatedores na audiência pública
da Comissão de Educação (CE) sobre o Projeto de Lei do Senado (PLS)
284/2012, ontem.
Autor
do pedido de audiência, Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) pediu aos
participantes da reunião que enviem sugestões ao relator, Cyro Miranda
(PSDB-GO).
Gilmar Ferreira, secretário de formação
da CNTE, representou a entidade. Segundo Gilmar, o projeto tem várias
fragilidades, uma vez que foi elaborado com base em um diagnóstico
nacional de que todos os problemas atuais da educação básica são
oriundos das dificuldades de alfabetização do aluno e, portanto, da
formação dos professores. Essa análise equivocada expõe a falta de
conhecimento com relação aos reais problemas da educação nacional.
"O nosso entendimento acerca do projeto
de lei é de que ele é totalmente descabido. (...) Ele já trazia no seu
preâmbulo uma contradição. Apontava a questão da educação básica, mas
para uma posição de formação de professor apenas para os anos iniciais e
para a educação infantil, o que quebra o princípio da isonomia",
explica Gilmar.
De acordo com o Secretário, a CNTE
acredita que esse projeto é um risco, se a matéria for votada de forma
isolada, sem considerar os problemas estruturais da educação nacional,
que vão de financiamento, questões de formação, carreira dos
profissionais da educação, até infraestrutura das escolas. Ao invés de
resolver os problemas da educação, pode aprofundá-los.
Para Roberto Requião (PMDB-PR), o
problema não será enfrentado de verdade enquanto a formação dos
professores não for continuada, vista como política de Estado.
— A intenção dessa proposta é maravilhosa; a consequência é nula — afirmou Requião.
Segundo os convidados, a proposta erra
por não apontar as fontes de financiamento, já que há previsão de bolsa.
E deveria propor a experiência para todas as séries da educação básica.
— Pelo Ideb [Índice de Desenvolvimento
da Educação Básica], estamos melhor justo nos anos iniciais — disse
Rodolfo da Luz, representante da União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação (Undime) e secretário de Educação de
Florianópolis.
Segundo os debatedores, residência
pedagógica até seria valorosa, sobretudo com uma bolsa que permitisse
dedicação integral. Mas é preciso pensar também na formação hoje
oferecida na licenciatura.
O representante do Conselho Nacional de
Secretários de Educação, Danilo de Melo Souza, disse que o déficit de
alfabetização e cultural dos professores limita o desempenho. De acordo
com Souza, a maioria dos estudantes de licenciatura tem formação com
vários problemas, inclusive no estágio obrigatório.
— Há uma preparação insuficiente, fruto de um processo de educação incompleto e tardio.
Helena
de Freitas, presidente da Associação Nacional pela Formação dos
Profissionais de Educação, defendeu melhor acompanhamento das
licenciaturas e dos cursos noturnos e a distância.
Yvelise Arco-Verde, do Ministério da
Educação, lembrou que o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência tem 70 mil estudantes inscritos. Há outros programas de
atualização e formação continuada. O problema, disse ela, é fazer o
projeto chegar às pequenas faculdades.
Além da formação, é preciso foco na
melhoria das condições de trabalho, afirmou Gilmar Ferreira, da
Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
— Ou o país enfrenta as questões estruturantes da educação pública ou todas as medidas não surtirão efeito — avaliou.
(Com Agência Senado)
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