Um convite à reflexão
sobre a necessidade de se garantir os direitos para todos/as os/as
brasileiros/as, principalmente os/as trabalhadores/as, os pobres e
excluídos. Escrito por: Vagner
Freitas, Presidente da CUT Nacional
STF e o Domínio dos
Fatos
Vagner Freitas,
Presidente da CUT Nacional
Democracia e Regras
do Jogo
A definição mais
tradicional das democracias modernas é que são governos “do povo,
com o povo e para o povo”.
O que legitima uma
democracia é o reconhecimento pela população de que os governantes
são eleitos com regras definidas numa Constituição, e que estes
são fiscalizados pelo Legislativo e pelo Judiciário. Ao mesmo
tempo, as liberdades democráticas devem garantir o direito de
organização e manifestação da sociedade, por meio de partidos
políticos, sindicatos, imprensa livre e liberdade religiosa.
A CUT – Central Única
dos Trabalhadores foi fundada em 1983, ainda no período da Ditadura
Militar e teve papel importante nas mobilizações a favor da
redemocratização do Brasil. Nossa central sempre defendeu as
liberdades democráticas e a livre organização da sociedade, com
respeito às regras democráticas.
O mundo comemorou o fim
dos governos autoritários no Leste Europeu e vem comemorando o
avanço, mesmo que relativo, da Primavera Árabe. No entanto, a crise
econômica europeia está pondo em risco as democracias da Europa e
mesmo a democracia dos Estados Unidos está sofrendo ataque dos
republicanos mais ortodoxos.
As democracias da
América Latina registram avanços e os governos eleitos priorizam a
geração de empregos, distribuição de renda e inclusão social.
Mas a reação conservadora, quando não consegue retomar o poder
pelo voto, ainda recorre a Golpes Militares ou Golpes Jurídicos.
Tivemos os exemplos da Venezuela, depois Honduras e mais recentemente
do Paraguai.
Com a redemocratização
do Brasil, tivemos três experiências de governos bem distintas:
O governo Collor, que
se colocava acima dos poderes legislativos e judiciários, mas que
teve amplo apoio dos interesses econômicos neoliberais. Foi
destituído pelo Legislativo, por meio de processo de Impeachment.
O governo FHC, que
consolidou o avanço neoliberal no Brasil, contou com amplo apoio do
Legislativo, do Judiciário, da imprensa e principalmente dos
empresários. Assim, não enfrentou resistência em alterar a
Constituição, mesmo “comprando apoio de parlamentares” para
autorizar sua reeleição.
Com a recessão
econômica, Lula elegeu-se presidente do Brasil em 2002 e conseguiu,
apesar das dificuldades, recuperar a economia, distribuir renda,
incluir 40 milhões de brasileiros na economia e no consumo, dando
dignidade aos/às trabalhadores/as do campo e da cidade.
Lula fez tudo isto
respeitando as regras do jogo e os poderes constituídos, enfrentando
uma oposição ferrenha por parte da imprensa neoliberal e de parte
dos parlamentares. Reelegeu-se em 2006 e conseguiu eleger sua
sucessora, Dilma Rousseff, como a primeira mulher presidenta do
Brasil.
Estão querendo
mudar as Regras do Jogo no tapetão
Quem mais deveria
cuidar das leis e aplicá-las com isonomia e lisura, está tomando a
iniciativa de introduzir mudanças jurídicas que alteram conceitos
básicos da Constituição Brasileira, sem passar pelo Congresso
Nacional.
Como bem escreveu Pedro
Abramovay, professor de Direito da FGV, na Folha de S. Paulo desta
quinta-feira, dia 04/10/2012:
“Alguns comentaristas
sobre o mensalão passaram a divulgar a ideia de que a utilização
de uma nova teoria pelo Supremo Tribunal Federal será definitiva
para a condenação de José Dirceu: a teoria do domínio do fato.
Com ela, não seriam
necessárias provas do envolvimento de Dirceu. Bastaria seu cargo de
chefe da Casa Civil. Assim, no caso de José Dirceu, o que deve ficar
claro é que a decisão de aplicar a teoria do domínio do fato não
diminui em nada a necessidade de apresentar provas da sua
participação no crime.
Provas de que ele
sabia, de que tinha poder sobre os atos e de que sua vontade foi
fundamental para o acontecimento dos crimes. É por isso que o
ministro Joaquim Barbosa, mesmo fazendo referência à teoria do
domínio do fato, gasta tanto tempo falando de reuniões. Porque,
ainda bem, não inventaram, até agora, nenhuma teoria capaz de
autorizar a condenação sem provas.”
Como dizem também os
professores de Direito da FGV, Marta Machado e Rafael Mafei, no
jornal O Estado de S. Paulo desta mesma data:
“A questão jurídica
que se coloca é: em quais circunstâncias o superior hierárquico
deve responder por crimes executados por subordinados? Um crime só
é imputável a quem lhe deu causa. No campo penal, não se pode
responsabilizar alguém por figurar em posto de poder.
A autoria por Domínio
de Fato também exige provas para a caracterização do autor.”
Convido a todos
refletirem sobre a necessidade de se garantir os direitos para todos
os brasileiros, principalmente os/as trabalhadores/as, os pobres e
excluídos.
Caso contrário, como é
tradição no Brasil, todos seremos passíveis de prisão e
condenação por sermos “suspeitos”. Precisamos avançar na
Democracia, em vez de retroceder para uma Ditadura.
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